domingo, 2 de outubro de 2011

Meningite transmitida por caramujo ataca o sistema nervoso e não tem tratamento

Ele veio da África e hoje está disseminado em todo o Brasil. O molusco Achatina fulica, mais popularmente chamado de caramujo ou caracol africano, é considerado por especialistas uma praga perigosa e está tirando o sono dos moradores de Tancredo Neves. “Se a presença deles já não agradava, saber então que eles são transmissores de meningite nos assusta mais ainda”, diz a cabeleireira Evanilde Barbosa.


Os moradores só se deram conta de que estão expostos ao problema ontem, quando o CORREIO divulgou a notícia de que os pequenos animais encontrados em grande número no Condomínio Arvoredo podem transmitir uma larva que no organismo humano desenvolve meningite. Era no condomínio Arvoredo que morava a estudante Lindiane de Souza Sá Teles, 27 anos, morta na segunda-feira de meningite C. O conjunto tem 2 mil moradores. Caramujos africanos transmitem meningite letal e se proliferam facilmente em Salvador




Especialistas explicam que, provavelmente, o caramujo não tem relação com a morte da estudante, pois a meningite transmitida pelo animal não é a do tipo C, mas que a doença que o molusco pode provocar é ainda mais preocupante.

“Alguns casos foram identificados em São Paulo e já se sabe que esse tipo de meningite é ainda mais grave que a meningite C, porque ela ataca o sistema nervoso e não tem tratamento”, explica o neurologista Antonio Andrade.

O infectologista Antônio Bandeira ressalta que ainda que em Salvador nenhum caso proveniente do molusco tenha sido registrado, os órgãos de saúde devem ficar atentos. “É preciso analisar esses animais. Eles devem ser eliminados do convívio com humanos”, alerta.

Origem

Mas, como os caramujos chegaram ao Brasil? “Na década de 80, aproximadamente, os criadores de moluscos queriam substituir o escargot (animal muito valorizado na culinária), que não se adaptou ao clima tropical. Os caramujos africanos são maiores, mais baratos e se reproduzem rapidamente, por isso foram importados”, explica Bandeira. “Porém, eles não foram bem aceitos pelo paladar brasileiro”, conta.

Como não agradaram, o jeito foi soltá-los. “Como eles se adaptam bem ao clima úmido, terra e sol, começaram a se reproduzir desenfreadamente. E não há predadores naturais. Portanto, não há nada que os impeça de se multiplicar”, completa.

Extermínio

Os moradores do Condomínio Arvoredo, mesmo sem saber o risco que corriam, acertaram na maneira de exterminá-los. “Aqui, a gente joga sal neles”, relata o morador Jorge Paulo.

A chefe do setor de informação do Centro de Controle de Zoonoses, Ana Galvão, diz que a atitude é adequada. Mas, para a chefe do Departamento de Zoologia da Ufba, Marlene Peso, o ideal é esmagá-los. “Eles são resistentes. Dependendo do tamanho deles, pode ser necessário muito sal e um longo tempo para matá-los. A pessoa pode queimar ou até passar por cima dele com veículos ou objetos pesados para quebrar a casca”.

A professora alerta, porém, que será difícil eliminar o caramujo de Salvador. “Não há como saber onde há ovos. Por isso, sempre nascerão mais”.

Identificação

Especialistas ressaltam que há também caramujos inofensivos. “Eles são mais escuros e geralmente reduzem pragas em lavouras. Podem ser encontrados em jardins também e não transmitem doença. Na dúvida, é melhor jamais manuseá-los”, explica Marlene. Ana Galvão diz que os caramujos africanos podem ser identificados facilmente. “Eles são marrons, têm listras brancas e concha mais pontiaguda”.

Zoonose vai analisar caramujos

O Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) foi ao Condomínio Arvoredo, em Tancredo Neves, ontem para esclarecer a população sobre os perigos do contato com o caramujo africano.

A reunião contou também com a presença de agentes da vigilância epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). “Não sabíamos que o caramujo pode passar outra forma de meningite. Há muitas crianças aqui que podem acabar mexendo neles e isso é um perigo”, diz o morador Jorge Paulo. Ele ressalta ainda que todos os 45 prédios do condomínio têm moluscos no jardim. “Em todos os edifícios há área verde, o que facilita a vida deles. Em período chuvoso eles aparecem aos montes, mas não conseguimos matar muitos”.

“Solicitamos esse encontro porque todos os moradores estão apavorados. Eles querem saber se precisam tomar vacina contra meningite C ou fazer uso dos antibióticos”, afirma o presidente da associação de moradores, Raimundo Braga.

Três funcionários do CCZ coletaram caramujos de dois edifícios do condomínio. Eles serão analisados pela Fiocruz, mas não há prazo para divulgação dos resultados. “Esses caramujos estão presentes em todos os distritos de Salvador. Estamos fazendo o procedimento que já fizemos em outras áreas como Campo Grande e Brotas para verificar se estão contaminados. Até hoje não encontramos contaminados na capital”, afirma a chefe do setor de informação do CCZ, Ana Galvão.

Por causa da infestação do molusco, alguns síndicos chegaram a substituir as terras dos canteiros dos edifícios por pedras. “Em época de chuva chegamos a tirar sacos de caramujos daqui. Por isso colocamos essas pedras, mas ainda assim, aparecem alguns”, contou a bióloga Ane Aparecida. “E diante da situação, com certeza nossa preocupação dobrou. Aqui temos muitas crianças que costumam brincar descalças nesses espaços”, completa.

O Caramujo Africano

Origem no Brasil: Entre a década de 80 e 90, os caramujos africanos foram trazidos ao país para substituir comercialmente o escargot, que no clima tropical não consegue se reproduzir. Porém, os caramujos africanos não foram bem aceitos pelo paladar brasileiro e os criadores resolveram soltá-los na natureza. Bem adaptados às condições climáticas no Brasil e sem predador natural, esses caramujos se reproduzem livremente e transformaram-se em pragas.

Como identificar: Eles são marrons com listras brancas e a concha é pontiaguda. Esses caramujos crescem bastante e os adultos chegam a pesar até 300 gramas.

Como matar: Basta jogar bastante sal neles, para que morram de desidratação, ou simplesmente esmagá-los. Após matar um caramujo, é necessário quebrar a casca ou concha pois ela pode armazenar água e transformar-se em depósito para reprodução do mosquito da dengue. O caramujo deve ser manuseado com auxílio de luvas, sacos plásticos ou pinças.

Sintomas da doença: Dor de cabeça, tontura, confusão mental, rigidez da nuca e hipertensão craniana. A doença atinge o sistema nervoso. A vítima entra em coma e posteriormente morre. Não há tratamento.

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