Nesse 2012 de muitas conquistas, nós do blog Mundo do Jaguar, temos muito a agradecer aos mais de 14 mil visitantes, que acreditaram em nosso trabalho,e prometemos um 2013 com grandes novidades e o mesmo compromisso que nos acompanhou nesse ano que encerra.
E como não poderia deixar de ser , seguindo a nossa linha de trabalho que a valorização do nosso querido subúrbio, e da querida e guerreira população suburbana, trazemos um texto de uma grande amiga e colaboradora a professora Jaqueline Santana, que nos presentou com esse texto lindo,que é uma verdadeira historia sobre o nosso querido e amado subúrbio
Desde já o nosso muito obrigado a nossa amiga Jaqueline Santana, e a todos os que nos acompanharam em 2012.
Um 2013 cheio de conquistas para vocês.
Cássio Alvim
Moderador do Blog Mundo do Jaguar.
SUBÚRBIO FERROVIÁRIO DE LUTA E ESPERANÇA OU...
...O
POTE DE OURO NO FINAL DO ARCO-ÍRIS
Jaqueline
Santana
Para você que vive no
Subúrbio Ferroviário de Salvador e não aproveita suas belezas, por medo dos
noticiários sensacionalistas da televisão, não sabe o que tem perdido.
O pôr do sol visto da
estação de trem de Escada é inigualável...E a vista da Igrejinha de São Thomé
de Paripe?
Um banho refrescante no mar
de Itacaranha ou da Ilha de Maré, uma moqueca de camarão no restaurante Boca de
Galinha ou na Cabana do Camarão...
Tem também um costume quase
secular de tomar uma média com pão fesquinho na padaria defronte à estação de
trem de Periperi, na companhia dos amigos. Isso sem falar dos inúmeros ‘babas’,
que acontecem todos os dias em todas as
centenas de quilômetros de praias.
No entanto, aproveitar sem conhecer não ajuda a entender
seus problemas e lutar pelas suas melhorias. Este Subúrbio, situada no entorno da Baía de Todos os
Santos, tem sofrido pela falta de assistência por parte dos poderes públicos,
nos últimos quarenta anos, apesar do seu grande potencial turístico.
Historicamente, pode ser definida conforme cinco situações distintas:
a)
Período de colonização: desde a chegada dos
colonizadores portugueses à Bahia de Todos os Santos, houve uma grande ocupação
da sua costa e grandes conflitos com os índios tupinambás que aí habitavam,
para a fundação de fazendas e engenhos de açúcar. Segundo relato de moradores
antigos, com o passar dos anos e a forte miscigenação, esses conflitos
diminuíram, culminando com a participação dos nativos nas lutas pela
Independência do Estado da Bahia, em 1823.
b)
Agricultura e Pecuária: no Período Imperial, a
partir da criação de fazendas e engenhos de açúcar, houve uma procura muito
grande pelas instâncias localizadas ao longo das praias mansas da Baía, onde as
famílias costumavam descansar e veranear. Para os antigos moradores, esse
período foi o embrião para a fase áurea vivida em seguida pelo Subúrbio
Ferroviário de Salvador.
c)
Subúrbio Romântico: Após a Proclamação da
República e a Abolição da Escravatura, houve a expansão da Rede Ferroviária
Federal por meio da fundação da Companhia Ferroviária Leste Brasileiro, no
final do século XIX. Então, as fazendas foram loteadas e as áreas localizadas
próximo às praias, comercializadas para fins de construção de casas de veraneio
para as famílias abastadas e de moradia para aposentados dispostos a viver
longe da metrópole. Do mesmo modo, o Subúrbio passa a ser povoado por famílias
de ferroviários. Para Mumford (1998, p. 530), “o antigo subúrbio romântico era
um esforço da classe média no sentido de encontrar uma solução para a depressão
e a desordem da metrópole imunda: uma efusão de gosto romântico, mas também uma
fuga à responsabilidade cívica.”
d)
Expansão demográfica: com a construção das
estradas de ferro e a implementação de linhas de passageiros para a capital por
via ferroviária, a partir das décadas de 30/40, houve um grande êxodo dos
habitantes do sertão para o Subúrbio Ferroviário, o que gerou uma explosão
demográfica e a desvalorização da região enquanto estação turística. Essa
época, no entanto, é marcada pela conquista de benefícios pela população
suburbana, com a criação de indústria têxtil, escolas, postos de saúde,
estradas e agremiações de operários. Vellanes (2004, p.18) afirma que,
com a expansão industrial e
conseqüentemente a urbanização, as migrações são facilitadas e as cidades onde
as indústrias se instalaram receberam um número maior de migrantes. Muitos
desses migrantes foram habitar os subúrbios que, sem infra-estrutura para
satisfazer suas necessidades, passaram a entrar numa fase de decadência urbana.
e)
Contemporaneidade: a década de 80, marcada
pela Crise do Estado Brasileiro,
trouxe para o Subúrbio Ferroviário de Salvador a explosão demográfica e
conseqüente ocupação desordenada decorrentes da falta de políticas de habitação
e planejamento urbano. Com isso, houve diminuição substancial da qualidade de
vida da população que aí habitava e aumento da violência.
O Subúrbio Ferroviário de
Salvador é incomum pela exuberância de recursos naturais e pela importância
histórica que representa e registra, atualmente, uma visível decadência social.
Este fato justifica-se, dentre outras coisas, pelos efeitos do crescimento
populacional e urbano desordenados, ocorridos a partir da década de 70. Por
exemplo, até muito pouco tempo, era comum ver muitas famílias reunidas nas
portas das casas até altas horas da madrugada para conversar, tocar violão,
jogar dominó ou baralho...Nesse sentido, vemos que o
crescimento populacional fez também com que o laço de
amizade entre as pessoas diminuísse comprometendo o sentimento de vizinhança
comum nos antigos subúrbios de população pequena. [...].
[...] Esse sentimento de vizinhança foi alterado pelas
transformações urbanas, mas ainda prevalece em alguns bairros suburbanos, como
no bairro de Periperi. O sentimento de vizinhança somado a outros elementos
como o bom humor, desvelam uma outra forma de vida que, apesar de ocultadas e
em menor grau, ainda permanece.(VELLANES, 2004, p. 22).
Outros problemas vivenciados atualmente pela população
suburbana de Salvador são: a poluição da Baía de Todos os Santos, o que
impossibilita a sobrevivência de diversas famílias por meio da pesca de peixes,
mariscos e caranguejos; insuficiência de escolas de Educação Infantil, Ensinos
Fundamental e Médio, assim como de postos de saúde e transporte coletivo para
atender à demanda existente. Com isso, a outrora próspera região, hoje é
caracterizada como qualquer periferia das grandes cidades brasileiras, onde a
exclusão e a violência imperam.
A maioria não sabe, mas nosso Subúrbio já foi a área nobre
de Salvador. Era frequentado pelas famílias mais ricas em tempo de veraneio, de
passeio, fato retratado em diversos livros de literatura ficção ou biográficos,
a exemplo do “Capitão do Longo Curso”, de autoria de Jorge Amado.
Hoje em dia, vive os problemas que circundam qualquer
cidade, mas conserva parte de sua tradição e charme. Nesse sentido, para nós,
que somos dele oriundos, nele habitamos ou simplesmente o amamos, é necessário
arregaçarmos as mangas, lutarmos em prol de mais conquistas para essa população
de mais de meio milhão de pessoas, oriundas de todas as classes sociais, que ainda
resistem em ai habitar e viver.
Que em 2013 consigamos ser vistos com o valor que temos, não
o que querem nos dar.
Avante, Subúrbio!!!!
ESPINHEIRA, G. O Parque
São Bartolomeu: esquecimento e memória. In: FORMIGLI, A. L.
(Org.). Parque Metropolitano de Pirajá: história, natureza e cultura. Salvador: Editora do
Parque, p. 23-27, 1998.
MOURA, R.; ULTRAMARI, C. O que é periferia urbana. São Paulo:
Brasiliense, 1996.
MUMFORD, L. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas.
4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
SANTANA, J. Gestão
escolar, poder local e formação cidadã:
equação possível? Salvador, 2006. Dissertação (Mestrado)- Universidade Salvador –
UNIFACS, Salvador, 2006.
VELLANES, P. O Colégio Estadual Presidente Humberto de
Alencar Castelo Branco na Memória Social dos Moradores de Periperi. 2004.
Dissertação (Mestrado)- Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Salvador, 2004.
Imagens; https://www.google.com.br/imghp?hl=pt-BR&tab=wi